O termo “cristão” será usado estritamente de acordo com o ensino do Novo Testamento. Usando o processo de eliminação vamos ver primeiro:
I. O QUE NÃO É SER CRISTÃO:
1. Tornar-se cristão não é tornar-se “religioso” ou adotar uma nova “religião”.
a) Entre os não crentes aceitar a Cristo é interpretado como “aceitar o cristianismo”.
b) Nos países chamados cristãos a conversão freqüentemente é o mesmo que tornar-se religioso.
c) Tais expressões são totalmente inadequadas e falsas. Não havia homem mais religioso sobre a terra do que Saulo de Tarso (At 22:26; Fil 3). Ele era um homem zeloso e cheio de paixão religiosa. Ser religioso está muito longe daquilo que o Novo Testamento chama ser cristão!
d) Ser um verdadeiro cristão não é aceitar um credo, declaração ou doutrina. Nem tampouco observar ritos e cerimônias, assistir cultos e se conformar a um padrão de vida!
e) De modo algum religião é Cristianismo. Quando pedimos às pessoas para se tornarem cristãs, não estamos pedindo que mudem de religião, nem que se tornem religiosas.
2. Tornar-se cristão não é unir-se a uma instituição chamada igreja.
a) Não existe tal coisa chamada “unir-se à igreja”. Não damos nenhum passo, nem em palavras, nem em atos para que nossos membros se tornem parte do nosso corpo. Não existe diferença entre os membros e o corpo. Mas, eles não se tornam membros pela organização, convite, exame, interrogação ou catecismo. Não! Só pela vida!
b) No tocante à Igreja de Cristo é a mesma coisa: tem que existir um verdadeiro relacionamento de vida. Ser membro no sentido técnico é uma coisa supérflua. Sem relacionamento não existe a Igreja de Cristo.
c) Existem multidões que são membros do que é chamado de “Igreja”, mas que não suportarão o teste do que seja realmente um cristão.
d) Quando convidamos as pessoas para tornarem-se cristãs não estamos pedindo que se unam à igreja.
e) Devemos reconhecer que o cristianismo não é mais uma instituição ou sociedade. Você pode ir a muitas chamadas “igrejas” e nunca encontrar satisfação.
f) Naturalmente isso é negativo, mas devemos reconhecer que quando nos tornamos cristãos, nós compartilhamos uma nova vida em Cristo, juntamente com todos os outros que nasceram de novo e assim nos tornamos um em Cristo!
3. Tornar-se cristão não é tornar-se parte de um novo movimento.
a) O cristianismo é num sentido um movimento: um movimento Divino do céu!
b) Mas alguns concebem o cristianismo como sendo um grande empreendimento para melhorar o mundo. Um apelo é feito para que as pessoas se unam a esta grande obra.
c) Mais cedo ou mais tarde os que se uniram a ele descobrirão que estão numa falsa posição.
d) Existe algo que deve acontecer antes do movimento: o movimento está com Deus e não conosco. O maior valor no movimento, quando chega a hora de Deus para ele, é que aprendemos a não nos mover sem Ele.
e) Não apelamos para que as pessoas se unam a um movimento, onde todas as suas forças e entusiasmo natural poderão ser usados!
f) Deus tem um propósito e você se interessa por Ele em relação àquele propósito! Mas antes devemos nos tornar “novas criaturas”!
II. O QUE É SER UM CRISTÃO
Vamos ver o que é ser um cristão utilizando um grande exemplo: Saulo de Tarso. O modo como ele foi convertido pode não ser comum ou geral, mas os princípios são sempre os mesmos. Os três princípios e realidades de uma verdadeira vida cristã são:
1. Quem És Tu? “Eu sou Jesus”!
A primeira coisa é um conhecimento interior de que Jesus é uma Pessoa viva e não apenas saber que Ele existiu.
a) Para Paulo foi uma tremenda descoberta: Jesus está vivo? Ele foi crucificado e morto; o que restava agora era apagar Sua memória e destruir aquilo que O representava.
b) Saulo dedicou-se a isso! Que surpresa não foi para ele descobrir que Jesus estava vivo! E na glória!
c) Começamos nossa vida cristã experimentando essa realidade viva. Não um Jesus da história, mas um Jesus do coração!
d) Todos devem provar isso! Temos apenas que lançar fora nossas tradições, preconceitos, dúvidas, perguntas e problemas mentais, ir diante Dele e falar com Ele, embora Ele não possa ser visto.
e) Fale com Ele com coração honesto e como se estivesse face a face com Ele. Fale com Ele como você fala com uma Pessoa.
f) O Espírito Santo está no mundo para levar as pessoas a experimentarem esta realidade! Que Jesus vive e entra no coração de todo aquele que se volta para Ele honestamente.
g) Só existe um caminho que é Jesus. Você ouviu falar de um médico e ele é o homem para o seu caso! Você diz que não existe tal pessoa? Que há evidências que ele morreu a muito tempo? Você vai até ele para dizer que não crê que ele seja médico?
h) Se você fizer isso mostrará duas coisas:
1º) Ou seu caso não é tão sério!
2º) Ou você está fugindo da sua seriedade!
i) Se seu caso é sério e você sabe disso, o mínimo que você vai fazer é ir ao médico e contar a ele sua situação e pedir para ele fazer o que pode!
j) A descoberta de que Jesus é uma realidade viva é a primeira coisa na vida cristã. Isto é um teste e um testemunho.
2. O que Queres Que Eu Faça Senhor?
Esta é a segunda coisa na vida cristã.
a) Isso representa uma nova posição e um novo relacionamento!
b) Antes disso Saulo propunha, planejava, determinava e desejava; fazia tudo para uma boa causa: para o próprio Deus!
c) Uma evidência clara de uma vida verdadeiramente aceitável a Deus: o senhorio absoluto de Cristo. Quando descobriu que Jesus vivia, Paulo exclamou: “Senhor! Que queres que eu faça?!”
d) A marca registrada da verdadeira vida cristã é a submissão a Cristo e uma vida governada por Ele como Senhor.
3. Cristo Em Vós – Col 1:27
a) Isto se torna verdade por um ato definido quando creio Nele e o Espírito Santo toma posse de nós interiormente. Isto é “nascer de novo”.
Ser cristão é:
1) Reconhecer que Jesus está vivo.
2) Entronizá-Lo como Senhor absoluto.
3) Ter Sua presença interior e poder, por meio do Espírito Santo.
III. O TESTEMUNHO DE PAULO: At 26:28 (14)
Estas palavras foram pronunciadas ao mesmo homem: como Saulo de Tarso e depois como Paulo o apóstolo. No primeiro caso (At 26.28) por um governador do Império Romano (Agripa) e depois por Jesus de Nazaré. Elas contêm a essência de uma verdadeira experiência cristã:
1) É Algo Absolutamente Pessoal:
“Ouvi uma voz Me dizendo, Saulo! Saulo!”.
a) Outros estavam com Saulo, mas a palavra foi dirigida a ele de forma pessoal. Jesus o conhecia pelo nome!
b) Deus tem um interesse pessoal conosco. Um irmão tinha o costume de evangelizar entregando apenas versículos da Bíblia. Certo dia, visitando um hospital militar, aproximou-se de um soldado que se achava todo enfaixado da cabeça aos pés. Só a boca e os olhos estavam descobertos. Uma enfermeira de longe deu a entender ao irmão que não adiantava falar com o tal soldado. Ele tentou se afastar, mas o Espírito de Deus o moveu a deixar um texto da Palavra no peito do doente. Ao se afastar ouviu o soldado dizer: “O que é isso?” Ele respondeu: “Palavras da Bíblia”. O doente pediu: “Por favor, leia para mim”. E o irmão leu: “Filho meu, dá-me o teu coração”. O doente ficou perturbado e exclamou: “Não sabia que meu nome estava na Bíblia!” O crente explicou: “Você está enganado: seu nome não está na Bíblia. Este é um texto do Livro de Provérbios”. Nessa hora o soldado moribundo pediu ao irmão que lesse a placa que mostrava o seu nome na cabeceira da cama: Myson Jack. Então o irmão entendeu. O texto da Palavra estava em inglês: “My son, give me your heart”. Observe leitor, que o sobrenome do soldado “myson” são as duas primeiras palavras do texto bíblico: “meu filho = myson”. Deus falou com aquele homem de forma pessoal e direta: “Soldado Myson (meu filho), dá-me o teu coração”. Maravilhoso, sublime, tocante!
c)Você acha isso coincidência, acidente? Aquele homem estava para entrar na eternidade e Deus o chamou pelo nome! (Gl 2:20).
d) Paulo não sabia, mas estava “dando coices contra o aguilhão” (At 26:14).
e) Saulo estava tentando desesperadamente provar a falsidade de Cristo e do cristianismo, mas, por dentro ele estava dando coices na vontade de Deus!
f) Cristo é uma realidade e mais cedo ou mais tarde teremos que recebê-Lo: (i) Como Senhor e Salvador agora; (ii) Como Juiz (Fil 2) no final da vida.
2. Cristianismo Não é Uma Religião e Sim Uma Pessoa!
a) Porque Me persegues? Veja a que ponto o zelo religioso de Saulo o levou!
b) Oh! Que tremenda é a diferença entre ser religioso e ser cristão!
c) Como é possível alguém ser apaixonadamente dedicado e devotado àquilo que crê ser de Deus, ou para Deus, e ainda estar “perseguindo” o próprio Deus ou obstruindo no número ou natureza dos pecados. Sua base de julgamento é outra: O que você fez do meu Filho?
e) Nossa rejeição não precisa ser violenta, como foi a de Saulo. Não precisamos cometer pecados grosseiros como: adultério, roubo, morte!
f) Não é necessário jogar o remédio ao chão para perecer; basta deixá-lo onde está e não tomá-lo.
Todas as questões de vida e morte, pecado e justiça, céu e inferno, tempo e eternidade, estão relacionadas não à religião, igreja ou crença, mas a um relacionamento vivo com o Filho de Deus.
a) O cristão é aquele que entrou num relacionamento vivo e encontrou resposta para todas estas perguntas e questões na Pessoa e Obra de Jesus Cristo.
Autor: T. Austin-Sparks