O PODER NA FRAQUEZA

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a sabedoria o entendimento dos entendidos. Onde está o sábio? Onde o escriba? Onde o questionador deste século? Visto como na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus, aprouve a Deus salvar pela loucura da pregação os que crêem. Pois, enquanto os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria, nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos, mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens. Ora, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos. Nem muitos os nobres que são chamados. Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas ignóbeis do mundo, e as desprezadas, e as que não são, para reduzir a nada as que são; para que nenhum mortal se glorie na presença de Deus. Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção; Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor. E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor. A minha linguagem e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstração do Espírito de poder; para que a vossa fé não se apoiasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus. (I Corintios 1:18-2:5)

Nesta passagem o apóstolo Paulo menciona quatro vezes o poder (1:18-24; 2:4-5). Faz referência ao poder de Deus, da cruz, de Cristo e do Espírito Santo. A estas referências podemos agregar mais duas, tomadas de sua segunda carta aos Corintios:

Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não da nossa parte. (II Corintios 4:7)
E ele (o Senhor) me disse: A minha graça te basta, porque o meu poder se
aperfeiçoa na fraqueza. Por isso, de boa vontade antes me gloriarei nas minhas fraquezas, a fim de que repouse sobre mim o poder de Cristo. (II Corintios 12:9)
Hoje vivemos em uma sociedade que adora o poder. Obviamente, a situação não é nada nova. A cobiça pelo poder tem caracterizado sempre o ser humano. Foi precisamente essa ambição que conduziu a queda de Adão e Eva, já que Satanás os tentou a desobedecer em troca de lhes dar poder. A sede de poder se expressa hoje em três ambições humanas muito amplas: a ambição desmedida pelo dinheiro, de fama e influência. Encontramos esta cobiça pelo poder em todos os âmbitos: na política, na vida pública, nas relações familiares, nos negócios, na indústria e no exercício profissional. Lamentavelmente, também aparece na igreja: na luta pelo poder eclesiástico nos altos níveis, nas disputas denominacionais, no exercício da liderança em algumas igrejas locais e ainda nas organizações paraeclesiasticas que pretendem conveter-se em impérios mundiais. Se formos honestos, descobrimos que esta sede de poder chega ao púlpito. O púlpito é um lugar extremamente perigoso para qualquer filho de Adão.
O poder é mais intoxicante que a bebida e mais vicioso que as drogas. Lorde
Acton, um político inglês do século XIX, estava preocupado pelas lutas de poder no seio do governo que pretendia ser democrático, e ainda na igreja católica romana, à que ele pertencia. Em 1817, o Concilio Vaticano I declarou a infalibilidade do Papa. Lorde Acton manifestou seu desacordo, e suas palavras seguem vigentes: “O poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe absolutamente”. Também deveria nos preocupar a luta pelo poder que vemos entre os evangélicos, ainda se se trata do poder do Espírito Santo. Porque queremos receber poder? Buscamos realmente o poder para testificar, para viver em santidade, para viver com humildade? Ou reflexa um desejo egoísta de exaltar nossa própria figura, ampliar nossa influência, impressionar e até manipular a outros? Até o evangelismo pode ser, em ocasiões, uma forma velada de imperialismo se promove mais o poder humano que o Reino de Deus. Nossa única preocupação deveria ser a majestade absoluta do Senhor Jesus Cristo e a honra de Seu Reino. Cristo mesmo nos adverte contra a ambição de poder. Ainda que no mundo se usa a autoridade para controlar outros, Jesus disse a seus discípulos que não devia ser assim entre eles: Mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos. Pois também o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos. (Marcos 10:42-45)
Jesus não se aferrou ao poder que legitimamente lhe pertencia. Se Ele renunciou ao poder,
nós devemos fazer o mesmo. Esta perspectiva é totalmente oposta à do mundo. Este valoriza o poder. Deus, pelo contrário, insiste na humildade. Não há maneira de reconciliar estas duas perspectivas. São opostas e devemos escolher entre elas. Provavelmente temos absorvido mais do que demos conta desta mentalidade secular. O filósofo Nietszche construiu todo um sistema sobre a premissa do poder. Propunha um mundo dominado por governantes autoritários e opressores, no qual não havia lugar para seres débeis e enfermos. Seu ideal era o super-homem. Nietszche adorava o poder e depreciava a Jesus Cristo por sua fraqueza. Ao contrário, o modelo que Cristo pôs diante de nós foi um menino. Por isso, o Título deste capítulo nos apresenta diretamente o paradoxo do evangelho: poder na fraqueza. Esse é o tema central de ambas as cartas de Paulo aos corintios. Diferente do mundo, o poder de Deus se mostra por meio da fraqueza. A fragilidade humana é o terreno no qual se manifesta o poder divino.
Na passagem de I Corintios 1:17-2:5 encontramos três expressões da mesma realidade: o poder de Deus se mostra na fraqueza da mensagem, na fraqueza dos receptores desta mensagem, e na fraqueza daqueles que pregam a mensagem.
A fraqueza na mensagem: a cruz

Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para
nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a sabedoria o entendimento dos entendidos. Onde está o sábio? Onde o escriba? Onde o questionador deste século? Visto como na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus, aprouve a Deus salvar pela loucura da pregação os que crêem. Pois, enquanto os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria, nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos, mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens. (I Corintios 1:18-25)
Paulo repete duas vezes o conceito de poder na fraqueza da mensagem: nos versículos 18-
21 nos versículos 22-25. Ambos parágrafos começam com uma referência à cruz e em ambos casos o apóstolo assinala que a perspectiva humana da cruz é diferente de Deus.
A loucura da pregação

O versículo 21 culmina no primeiro parágrafo com uma afirmação maravilhosa do
evangelho. Contem três importantes contrastes. Quem tomou a iniciativa de vir para salvar os pecadores? A resposta põe em evidencia o primeiro contraste entre Deus e o mundo. A sabedoria do mundo falhou, mas Deus tomou a iniciativa e enviou a Seu Filho para salvar aqueles que creram nEle. O resultado desta iniciativa de Deus nos mostra o segundo contraste. A salvação em Cristo não é só conhecimento acerca de Deus, tal como a sabedoria humana poderia chegar a oferecer. A salvação que Deus oferece é muito mais que simplesmente conhecer sobre Ele; é restaurar plenamente nossa relação com Ele. O terceiro contraste surge ao perguntar como se levou a cabo esta iniciativa. Deus o fez através da “loucura da pregação”. O que era impossível para a sabedoria do mundo, Deus se contentou em fazer-lo através do kerygma, isto é, a mensagem do evangelho.
Loucura da cruz

O segundo parágrafo sobre a fraqueza da mensagem do evangelho compreende os
versículos 22-25. O apóstolo elabora outra vez o mesmo tema; Deus mostra Sua sabedoria através da loucura de cruz. É na cruz, com toda a sua fraqueza, que Deus demonstra Seu poder. Paulo faz referencia à perspectiva que tanto os judeus como os gentis tinham da cruz. Os primeiros pediam sinais e milagres. Esperavam um Messias político que expulsasse as legiões romanas para o mar Mediterrâneo e restaurasse a soberania do povo de Israel. Cada vez que um líder revolucionário dizia ser o Messias anunciado, os judeus lhe pediam sinais de poder que dessem credibilidade a suas pretensões. Por isso, uma e outra vez faziam a Jesus essa pergunta: Quais são os sinais que tu fazes, para que te creiamos? Os judeus esperavam poder, não fraqueza. O Cristo crucificado era um tropeço para as expectativas judias, que imaginavam um líder poderoso cavalgando a frente de um potente exército. O que lhes oferecia o evangelho? A patética figura do nazareno crucificado, um verdadeiro insulto ao orgulho nacional. Como podia o Messias de Deus terminar Sua vida crucificado, condenado por seus compatriotas e ainda de baixo da maldição de Deus mesmo? Para a perspectiva judaica isto era inaceitável. Os gregos, por sua parte, esperavam demonstrações de sabedoria. Estavam treinados para escutar cada nova teoria e comprovar se era razoável para a lógica humana. Se para os judeus a cruz era expressão de fraqueza, para os gentis era de loucura. Para os gregos e romanos a crucificação era um método de execução pública muito humilhante. Estava reservada unicamente para criminosos; nenhum cidadão livre era crucificado. Redundava inconcebível dessa forma. Cícero, o grande orador romano, disse que a cruz não só era alheia ao corpo de um romano senão para sua mente, seus olhos e seus ouvidos. A cruz era algo tão horroroso que um cidadão não devia presenciar uma crucificação, nem falar sobre ela, nem ainda considera-la em sua imaginação. Em contraste com a percepção da cruz que tinham tanto judeus como gentis, Deus fez dela o meio para mostrar Sua sabedoria e Seu poder: “Cristo é o poder e sabedoria de Deus, porque o insensato de Deus é mais sábio do que os homens, e o fraco de Deus é mais forte que os homens” (1:24-25).
Porque descartamos a cruz?

As palavras de Paulo são muito relevantes em nossos dias e têm especial aplicação no
ministério da pregação. Ainda que não nos enfrentamos com judeus nem a gregos do primeiro século, existem modernos representantes de ambos os grupos. A cruz continua sendo pedra de tropeço para aqueles que, como Nietzsche, adoram o poder. A cruz é tropeço para todos os que confiam no poder humano e em sua própria capacidade para se salvar. Como os judeus contemporâneos de Paulo, muitos de nós tratamos de nos amparar em nossa própria justiça. Muitas pessoas crêem que Deus está obrigado a aceita-las por suas boas obras. Quem pensa assim tem uma percepção muito pequena de Deus, ou melhor, uma exagerada percepção de si mesmos. Ao contrário, aqueles que tiveram se quer uma visão parcial da majestade de Deus não podem cair em nenhum destes erros. Nunca ninguém pode se salvar a si mesmo e ninguém nunca o fará. Essa é a mensagem da cruz e por isso é pedra de tropeço para aqueles que têm uma exagerada percepção de seu próprio poder. Assim como a cruz é tropeço para os que confiam em sua própria moralidade, é loucura para aqueles que confiam em sua própria capacidade intelectual. A. G. Ayer, um filósofo de Oxford particularmente famoso logo depois da Segunda Guerra Mundial, escreveu um livro intitulado Linguagem, verdade, e lógica. Assim se referiu com sarcasmo ao cristianismo: De todas as religiões históricas, há muito boas razões para considerar ao cristianismo como a pior, porque descansa em duas doutrinas. A primeira é o pecado original, e a segunda, a expiação vicária de Cristo. Ambas são intelectualmente inconcebíveis e moralmente absurdas. Esta é a perspectiva do mundo sobre a cruz. Ao contrário, para aqueles que Deus chamou, a cruz não é fraqueza senão poder. Não é loucura, senão sabedoria. A cruz é o poder de Deus porque por meio dela Deus fez possível a salvação dos pecadores. Ele nos reconcilia consigo mesmo, nos livra da culpa de Seu justo juízo sobre nossos pecados. Ele no liberta da escravidão de nosso egocentrismo e nos põem nos elevados caminhos da santidade. Tudo isso é possível só por meio da cruz. A cruz é também sabedoria de Deus, porque por meio dela Deus não só resolve nosso problema senão também, por assim dizer, Seu próprio dilema. Como poderia Deus expressar sua justiça e condenar aos pecadores sem frustrar desta maneira Seu amor por eles? Como poderia expressar Seu amor e perdoar aos pecadores, sem pôr em dúvida Sua justiça? Em outras palavras, como poderia ser, ao mesmo tempo, um Deus justo e salvador? A resposta de Deus foi a cruz. Ali, em Seu Filho, tomou nosso lugar, levou nossos pecados e morreu nossa morte. Paulo desenvolve este tema extensamente em sua carta aos Romanos. Em 3:21-26 declara que, na cruz, Deus demonstrou Sua justiça. E em 5:8, afirma também que ali Deus demonstrou seu amor. Não tem dúvida de que a cruz é sabedoria de Deus, muito mais efetiva e poderosa que a sabedoria humana!
Poder na fraqueza dos crentes

Ora, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a
carne, nem muitos os poderosos. Nem muitos os nobres que são chamados. Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas ignóbeis do mundo, e as desprezadas, e as que não são, para reduzir a nada as que são; para que nenhum mortal se glorie na presença de Deus. Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção; Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor. (I Corintios 1:26-31)
Deus não escolheu mostrar Seu poder na fraqueza da mensagem senão também na
fraqueza de quem recebe a mensagem. Os versículos 26-27 descrevem os crentes em Corinto. Não havia evidências de sabedoria nem de poder entre a gente convertida ali, senão mais bem o contrário. São termos fortes os que Paulo usa no versículo 27: louca, fraca, ignóbil, desprezada do mundo... Nesta classe de gente havia atuado o poder de Deus. A estratégia divina não mudou. Deus segue escolhendo o que para o mundo “não é” para desfazer o que tem pretensão de ser algo. Nos versículos que seguem, o apóstolo explica que Deus quis faze-lo para que ninguém se jacte em Sua presença. Todo o crédito da salvação pertence unicamente a Deus. Por Ele, e só pro Ele, Jesus Cristo é para nós sabedoria, justificação, santificação e redenção. Cristo é nossa justificação porque por Ele fomos posto em harmonia com Deus. Isto já aconteceu no passado. Cristo ademais é nossa santificação, que é o processo que transcorre no presente e pelo qual chegamos a ser como Ele. E em terceiro lugar, é nossa redenção. O contexto indica que se refere à redenção de nossos corpos, e por isso faz referência indireta à glória futura. Estas três realidades são evidência do poder de Deus em nós por meio de Cristo. Em outras palavras, Cristo é a demonstração do poder de Deus nestes três fatos que se cumprem, respectivamente, no passado, no presente e no futuro. Em nenhum sentido podemos atribuir estas realidades a algum mérito nosso. Tudo se deve à graça de Deus, através de Cristo na cruz. O primeiro capítulo desta carta de Paulo culmina no versículo 31, onde o apóstolo cita o profeta Jeremias. Ainda que a referência de Paulo não é completa, vale a pena ler no Antigo Testamento, por sua pertinência neste tema:
Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o
forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em entender, e em me conhecer, que eu sou o Senhor, que faço benevolência, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor. (Jeremias 9:23-24)
A maioria dos convertidos de Corinto pertencia aos níveis mais baixos da sociedade. Ainda
que havia exceções, não havia entre eles pessoas de influencia; tão pouco eram aristocratas nem intelectuais. Mais bem, os que aceitavam o evangelho eram os incultos, os pobres, os socialmente excluídos e os escravos. O fato de que o evangelho havia chegado a eles para os salvar e os transformar, foi outra evidência que Paulo usou para mostrar que o poder de Deus se manifesta na fraqueza humana.
A quem pregamos?

Como aplicamos este ensinamento à situação de hoje? O apóstolo não afirma em nenhum
momento que Deus nunca salva pessoas inteligentes, ricas ou influentes. Paulo mesmo, antes Saulo de Tarso, era uma pessoa instruída e sábia. Em Corinto se havia convertido Crispo, regedor e chefe da sinagoga local. É interessante a quem Paulo menciona nas saudações que envia a igreja em Corinto à em Roma, na carta que Paulo os escreve estando em Corinto. Um dos mencionados no último capítulo é Gaio, um homem tão rico que poderia ter oferecido hospitalidade a toda a comunidade cristã em Corinto. Outro deles, Erasto, era encarregado das obras públicas da cidade. Estes exemplos são importantes para que façamos uma correta aplicação dos ensinamentos do apóstolo. Seria errado pensar, por exemplo, que não devemos evangelizar os universitário, os líderes da comunidade ou os ricos. O que Paulo declara é que o poder de Deus só produz salvação nos fracos. Se alguém que é forte do ponto de vista humano quer ser salvo, deve estar disposto a se tornar fraco. Jesus Cristo ensinou claramente esta verdade, quando bendisse aos meninos e disse que os que querem entrar no Reino de Deus têm que se fazer como um deles (Marcos 10:13-15).
Poder na fraqueza de quem prega
E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus,
não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor. A minha linguagem e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstração do Espírito de poder; para que a vossa fé não se apoiasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus. (I Corintios 2:1-5)
Deus elegeu a fraqueza e loucura da cruz para nos salvar, e só os que se reconhecem
débeis podem receber essa mensagem de salvação. Agora, o apóstolo agrega que o mensageiro do evangelho não tem poder senão em sua fraqueza. Hudson Taylor, que viveu no século XIX foi fundador das missões à China, dizia que todos os gigantes de Deus foram pessoas fracas. Isto é muito certo com respeito ao apóstolo Paulo. Em contraste com aqueles a quem chamava os superapóstolos, Paulo não confiava em suas próprias habilidades. Aqueles eram soberbos, tinham confiança em si mesmos e se jactavam de sua própria autoridade e poder. Com sua atitude estavam causando problemas na igreja em Corinto. Paulo disse muito claramente que os que assim atuavam eram falsos apóstolos. Ele, pelo contrário, se reconhecia fraco e recusava usar sua própria sabedoria humana. Paulo havia renunciado a filosofia humana e havia escolhido a cruz de Cristo. Ademais havia renunciado à retórica grega e havia adotado confiar só no poder do Espírito. Ao começar o capítulo 2 Paulo declara, uma vez mais, que ele não quer apelar à sabedoria humana senão unicamente a Jesus Cristo, e a este crucificado. Confessa aos corintios que ao chegar ali havia se sentido nervoso e assustado. No entanto, em vez de confiar em sua própria retórica, pôs sua confiança na demonstração do Espírito e do poder de Deus. Esta confissão de fraqueza não é típica dos pregadores evangélicos na atualidade. Nos seminários se preocupam em inculcar nos estudantes confiança em si mesmos e destreza na pregação. Se Paulo se matriculasse em um seminário hoje, provavelmente não o considerariam um estudante muito promissor. Seguramente lhe haviam dito: “Paulo, você é um cristão maduro; não tem nenhum motivo para estar nervoso. Por um acaso você não sabe o que é estar cheio do Espírito Santo? Você deve ser forte e mostrar confiança em si mesmo”. Ainda que fosse inteligente e tivesse uma personalidade forte, ao mesmo tempo era frágil e emocionalmente vulnerável. Porém Paulo não tinha vergonha de admitir que tinha medo. Chegou até nós uma descrição do apóstolo que data do século III, que pode ou não ser precisa. Esta tradução diz que Paulo era uma pessoa de pouca estatura, feio, calvo, encorcovado e sobrancelhas muito cerradas. No Novo Testamento, lemos que seus opositores diziam dele que sua aparência física era fraca e que não era eloqüente ao falar. Não era precisamente alguém a quem valeria a pena olhar e escutar! Seguramente tudo isso contribuía com esse sentimento de debilidade que tinha Paulo. Mas em sua fraqueza, ele recordava e recorria ao poder de Deus. A menção, no versículo 4, à demonstração do Espírito e do poder em sua pregação provavelmente não se refere a milagres, ainda que também os tenha feito. É mais provável que se refere ao milagre de conversão de seus ouvintes. Cada apresentação do evangelho envolve um encontro de poder entre Cristo e Satanás, e em cada conversão se demonstra o poder superior de Jesus Cristo. Isto é possível porque o Espírito Santo toma nossas palavras, pronunciadas com fraqueza, e com Seu poder as leva à mente, ao coração e à consciência dos que escutam, para que possam reconhecer a verdade e crer.

Quem converte aos pecadores?
Uma vez mais, não devemos interpretar equivocadamente este ensinamento de Paulo. Não nos é pedido que reprimamos nossa personalidade ou que simulemos ser fracos. Tão pouco se sugere que cultivemos uma falsa fragilidade, ou que renunciemos usar a razão quando apresentamos o evangelho. Mais bem, o que o apóstolo exemplifica e ensina é um reconhecimento honesto de que nós não podemos salvar a ninguém. Não é uma personalidade envolvente nem a persuasão inteligente que produz convicção. Só o Espírito Santo pode converter. Só Deus dá vista aos cegos e vida aos mortos. É o Espírito de Deus quem manifesta Seu poder por meio do evangelho de Jesus Cristo. O poder não está em nós, como tão pouco estava em Paulo; está na cruz e no Espírito Santo. Em 1958, eu estava participando em uma missão evangelista na Universidade de Sidney, na Austrália. Havia feito apresentações durante toda uma semana e no último dia estava totalmente sem voz. Ainda que tenha orado, meu estado era pior ao chegar o horário da reunião. Pus minha confiança no Senhor, sem saber o que poderia suceder. Pedi a alguns estudantes cristãos que lessem a passagem de II Corintios 12:9-12.
Como Paulo, sabia que o poder de Deus se
aperfeiçoaria na minha fraqueza. Como ele, decidi regozijar-me nas minhas fraquezas e em meus problemas, para que o poder de Deus se mostrasse. Nesse dia não pude usar nenhum recurso para modular a voz nem dar expressão à mensagem. Foi uma pregação roca e monótona. Quando fiz o convite para aceitar Jesus Cristo, houve uma resposta maior do que a dos dias anteriores. De todo o salão se adiantavam estudantes para receber a Cristo. Mas o mais interessante é o seguinte: desde1958 tenho voltado uma dezena de vezes a Austrália. Em cada visita, alguém tem chegado e me dito: “Lembra daquela reunião na Universidade de Sidney? Eu me converti naquela noite!” Aquelas conversões foram duradouras. Sem dúvida, é um exemplo de que o poder de Deus se mostra ainda mais em nossa fraqueza.
O Cordeiro de Deus

Temos uma mensagem apresentada em uma cruz, que expressa fraqueza. Esta
mensagem é proclamada por pregadores fracos, cheios de temor. E é recebida por pessoas fracas, desprezadas pelo mundo. Deus quis escolher um instrumento fraco para apresentar a mensagem de Cristo crucificado aos proletários em Corinto, e Ele atua da mesma maneira hoje. O principio do poder na fraqueza alcança sua máxima expressão na pessoa de Cristo. Sendo Deus, não se aferrou a Sua condição; pelo contrário, se esvaziou de Seu poder e Sua glória, e se humilhou para nos servir e nos salvar. Depois de ser batizado por João, Jesus foi tentado no deserto da Judéia. Ali, o diabo lhe ofereceu poder, mas Jesus Cristo o repeliu. Pelo contrário, com firmeza se dirigiu a Jerusalém e se entregou voluntariamente à máxima expressão de fraqueza e humilhação: a morte na cruz. Por isso Deus o exaltou a mais alta honra. Se acompanharmos a João no capítulo 4 de Apocalipse, veremos uma porta aberta no céu. A primeira coisa que se vê desta porta aberta é um trono, símbolo de poder e soberania. É o trono do Reino de Deus. O apóstolo João continua descrevendo sua visão e algo nos enche de assombro. No trono não somente reconhece Deus em toda Sua grandeza, senão a um Cordeiro “como imolado”. Se o trono é símbolo de poder, o cordeiro tosquiado e sacrificado é símbolo de fraqueza. Em outras palavras, ali, no trono da eternidade, reina o poder através da fraqueza. Deus em Cristo, na cruz; e o Cordeiro de Deus, no trono. Essa é a própria essência de Deus. Que haja em nós a mesma atitude que houve em Cristo Jesus! Isto é o que o mundo mais precisa. Este é o tipo de líder cristão que a igreja precisa hoje. Onde estão? Líderes e evangelistas que olhem para o Cordeiro no trono e o sigam aonde quer que Ele vá. Homens e mulheres que renunciem à sabedoria e ao poder deste mundo, porque sabem que o poder de Deus se manifesta na sua fraqueza.



“...haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos”
(2 Timóteo 4.3)

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