O MINISTÉRIO CRISTÃO

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Não me interpretem mal. Eu não ponho em dúvida a instituição divina do ministério cristão, posto que o «ministério» é característico do cristianismo.
Se bem creio que todos os verdadeiros cristãos são ministros, eu não questiono um ministério especial e distintivo da Palavra, como dado por Deus a alguns e não a todos, mas para o uso de todos. Ninguém que seja verdadeiramente ensinado por Deus pode negar que alguns cristãos tenham o lugar de evangelista, pastor ou mestre.
A Escritura ensina que todo verdadeiro ministro é um dom de Cristo, que o é por Seu cuidado como Cabeça da Igreja, e que é para Seu povo, que é algum irmão que tem seu lugar dado por Deus somente e que é responsável, em seu caráter de ministro, ante Deus somente.
O miserável sistema clérigo-laicista degrada o ministro de Deus desse bendito lugar e faz dele pouco mais que a manufatura e o servidor dos homens. À vez que outorga um lugar de senhorio sobre pessoas que comprazem à mente carnal (a velha natureza), este sistema restringe ao homem espiritual, tanto ao gerar nele uma consciência artificial para os homens (o conselho da igreja, etc.), como ao obstaculizar sua consciência para estar corretamente diante de Deus.
Permita-me estabelecer brevemente qual é a doutrina da Escritura sobre o «ministério». É muito simples.
A verdadeira Igreja (Assembléia) de Deus é o corpo de Cristo; todos os membros são os membros de Cristo. Nas Escrituras não há mais condição de membros que esta: a de membros do corpo de Cristo, ao qual pertencem todos os verdadeiros cristãos; não muitos corpos de Cristo, senão um só corpo (Efésios 4:4); não muitas igrejas, senão uma só Igreja.
Há um lugar diferente para cada membro do corpo pelo único fato de que ele ou ela são um membro. Nem todos podem ser o olho, ou ouvido, etc., mas todos eles são necessários, e todos são ministros em alguma forma, uns dos outros. Assim pois, cada membro tem seu lugar, não só em uma determinada localidade e para o benefício de uns poucos, senão para o benefício do corpo inteiro. Cada membro tem um dom “porque da maneira que em um corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros tem a mesma função, assim nós, sendo muitos, somos um corpo em Cristo, e todos membros uns dos outros. De maneira que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada...” (Romanos 12:4-6). Leia também 1.ª Coríntios 12:7.11; Efésios 4:7 y 1.ª Pedro 4:10, os que também demonstram que cada cristão possui um dom.
Em 1 Coríntios 12, Paulo fala em detalhe destes dons e os chama por um nome significativo no versículo 7: “manifestações do Espírito”. Eles são dons do Espírito e, também, manifestações do Espírito. Eles se manifestam (se mostram) a si mesmos ali onde se encontram, onde há discernimento espiritual por gente que está mui próximo de Deus, em comunhão íntima com ele. Por exemplo, tomemos o Evangelho.
De onde obtém seu poder e autoridade? É de alguma aprovação do homem, ou é de seu próprio poder inerente? Desafortunadamente, a tentativa comum de acreditar ao mensageiro, tira, em lugar de agregar, poder à Palavra.
A Palavra de Deus deve ser recebida simplesmente por ser sua Palavra. Ela tem a capacidade de satisfazer as necessidades do coração e da consciência só por ser as boas novas de Deus; o Deus que conhece perfeitamente qual é a necessidade do homem e que, em conseqüência, tem feito provisão para ele. Todo aquele que tem sentido o poder do Evangelho sabe de Quem tem vindo o poder. A obra e o testemunho do Espírito Santo na alma não necessitam nenhum testemunho do homem que os suplementem.
Mesmo a apelação do Senhor em seu próprio caso foi à verdade. Ele expressou: “Pois se digo a verdade, por que vós não me credes?” (João 8:46). Quando Ele falava na sinagoga judaica ou em qualquer outro lugar, era, aos olhos dos homens, só um pobre filho de carpinteiro, não acreditado por escola ou grupo de homens alguns. Todo o peso da autoridade humana esteve contra Ele. Ele inclusive repudiou “o receber testemunho dos homens”. Só a Palavra de Deus deve falar por conta de Deus. “Minha doutrina não é minha, senão daquele que me enviou” (João 7:16). E, como se aprovou a si mesma? Pelo fato de ser verdade! A verdade se fez conhecer àqueles que a buscavam; o que “quer fazer a vontade de Deus, conhecerá se a doutrina é de Deus, ou se eu falo por minha própria conta” (João 7:17). Em João 7 e 8, o Senhor lhes está dizendo: «Eu digo a verdade. a tenho trazido de Deus; e se esta é a verdade, e se procurais fazer a vontade de Deus, aprendereis a reconhecê-la como a verdade.» Deus não manteria as pessoas na ignorância e na obscuridade se procuravam fazer Sua vontade. Permitiria Deus que os corações sinceros fossem defraudados pelos muitos enganos que haviam em redor? É claro que não! Ele faz conhecer Sua voz a todos os que lhe buscam. Assim, o Senhor diz a Pilatos: “Todo aquele que é da verdade, ouve a minha voz” (João 18:37). “Minhas ovelhas ouvem minha voz, e eu as conheço, e me seguem”, e de novo: “Mas ao estranho não seguirão, senão fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos” (João 10-27, 5). A verdade é de uma natureza tal que a desonramos se tratamos de convalidá-la para aqueles que são verdadeiros, como se ela não fosse capaz de evidenciar a si mesma. Deus mesmo inclusive é desonrado, como se ele não pudesse ser suficiente para as almas, ou para o que ele mesmo tem dado. Não, o apóstolo fala de “manifestação da verdade, recomendando-nos a toda consciência humana diante de Deus” (2.ª Coríntios 4:2). O Senhor diz que o mundo está condenado porque “a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas que a luz, porque suas obras eram más” (João 3:19). Não havia nenhuma falta de evidência. A luz estava ali, e os homens reconheceram seu poder para sua própria condenação, quando procuraram escapar dela. Da mesma maneira, no dom está a “manifestação do Espírito”, e é “dada a cada um para proveito” (1.ª Coríntios 12:7). Pelo simples fato de que um homem o tenha, ele é responsável de usá-lo; responsável ante Ele, quem não o tem dado em vão. A capacidade e o título para «ministrar» estão no dom, porque eu sou responsável de ajudar e de servir com o que tenho. Se os demais recebem ajuda, eles não necessitam perguntar se tenho autorização para ajudá-los. Este é o caráter sensível do ministério, o serviço de amor conforme a capacidade que Deus dá; serviço mútuo de uns aos outros e para todos, sem acepção ou a exclusão de uns a outros. Cada dom é adicionado ao tesouro comum, e todos são feitos mais ricos. A benção de Deus e a manifestação do Espírito são toda a autorização requerida. Nem todos são mestres, mas se aplica exatamente o mesmo princípio. O ensinamento é, entretanto, uma das muitas divisões do serviço para Deus, serviço que é rendido por uns a outros, de acordo com a esfera de seu ministério. Não havia acaso nenhuma classe ordenada (designada) na Igreja primitiva? Isso é uma coisa totalmente distinta. Havia duas classes de oficiais que eram regularmente designados ou ordenados. Os diáconos ou servidores tinham a seu cargo os fundos para os pobres e outros propósitos, e eram eleitos, primeiro pelos santos para este posto de confiança, e logo nomeados pelos apóstolos, já fosse diretamente ou por aqueles autorizados pelos apóstolos para fazê-lo. Os anciãos foram uma segunda classe —homens de idade, como o indica a palavra— que foram nomeados nas assembléias locais unicamente pelos apóstolos ou seus delegados (Atos 14:23; Tito 1:5) como bispos ou supervisores para estarem atentos ao estado espiritual da assembléia. Os anciãos eram o mesmo que os bispos, como deduzimos claramente das palavras de Paulo aos anciãos de Éfeso (Atos 20:17,28), quando ele lhes exorta dizendo: “Portanto, olhai por vós e por todo o rebanho em que o Espírito Santo os tem posto por bispos.” Aqui os tradutores da versão Reina-Valera tem deixado sem traduzir a palavra grega «bispo» que significa «supervisor», e o mesmo podemos observar em Tito 1:5, 7: “Por esta causa te deixei em Creta, para que... e estabelecesses anciãos em cada cidade, assim como eu te mandei... porque é necessário que o bispo (supervisor) seja irrepreensível...”. O trabalho de um ancião era vigiar ou supervisar, e mesmo quando ser “apto para ensinar” (1.ª Timoteo 3:2) era uma qualidade muito requerida em vista de que os erros eram já rampantes, o fato de ensinar certamente não era algo limitado àqueles que eram “maridos de uma só mulher, que tenha a seus filhos em sujeição com toda honestidade”, etc. (Tito 1:6-9; 1.ª Timóteo 3). Esta foi uma prova necessária para um que seria ancião (ou bispo), “pois o que não sabe governar sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?” (1.ª Timóteo 3:1-7). Qualquer que tenham sido os dons que tiveram os anciãos, eles os utilizavam da mesma maneira que faziam todos. O apóstolo Paulo ordena o seguinte: “Os anciãos que governam bem, sejam tidos por dignos de duplo honorários, especialmente os que trabalham em pregar e ensinar” (1.ª Timóteo 5:17). Mas se desprende claramente que eles podiam governar bem sem ocupar-se em trabalhar na Palavra e no ensino. O significado de sua ordenação ou nomeação era só este: aqui se tratava de uma questão de autoridade, não de dom. Foi uma questão de título para examinar com freqüência assuntos difíceis e delicados entre pessoas que não estavam dispostas a submeterem-se à Palavra de Deus. A ministração do «dom», não obstante, era uma questão totalmente diferente.
Hoje vivemos tudo ao contrário, precisamos acordar para o fato de estarmos vivendo um tempo de apostasias, a última hora.



“...haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos”
(2 Timóteo 4.3)

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