Para melhor compreensão da admoestação de Paulo, precisamos começar pela definição do termo “eu”. Ele significa simplesmente a própria pessoa e tudo que lhe diz respeito. Ser amante do meu próprio “eu” significa que eu me amo primeiro e antes de tudo. O “ego” satura o meu coração, minha mente, minha vontade, minha consciência. O “ego”, antes da salvação em Cristo, é um ser autônomo, fazendo o que deseja, em rebelião contra Deus. Para os crentes em Jesus Cristo, que são novas criaturas (2 Coríntios 5:17) o “ego” deveria estar a Ele submisso. Um crente verdadeiro nega-se a si mesmo, diariamente, toma a sua cruz e O segue. Está crucificado com Cristo e, mesmo vivendo, tem a sua vida em Cristo através da fé (Mateus 16:24; Gálatas 2:20).
Por que Paulo colocou tanta ênfase no “ego” como sendo um item de crítica preocupação nos “últimos dias”? Será que o “ego” não tem sido o problema comum da humanidade, desde o primeiro ato de desobediência contra Deus, no Jardim do Éden (Gênesis 3)? Não foi a sedução de Satanás a Eva um mentiroso apelo no sentido de enaltecer o seu “ego”?
“Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi. E disse o SENHOR Deus à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi.” (Gênesis 3:5). Eva não caiu por causa das mentiras de Satanás de auto-gratificação e auto-deificação? E não foi a auto-preservação um óbvio produto do pecado de Adão e Eva, quando atiraram para longe deles a censura? Adão se desculpou: “A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi”. Eva disse: “A serpente me enganou”, e eu comi” (Gênesis 3:12.13).
Obviamente o “ego” tem ocupado um papel central na vida da humanidade, desde esse primeiro ato pecaminoso sobre a terra, e a partir daí.
Mesmo assim, Paulo coloca uma ênfase especial sobe o “ego”, nos “últimos dias”. Embora a auto-busca e auto-serviência tenham sido as características predominantes da humanidade, desde a Queda, somente após a ascensão da moderna psicologia é que o “ego” tem sido proclamado como a solução de todos os males mentais, emocionais e comportamentais. Esse novo desenvolvimento começou no século 19, tendo-se tornado inevitável, quando os “cientistas” darwinistas começaram a promover a sua própria teoria sobre a origem do homem.
Por que inevitável? Bem, como Deus “perdeu” o Seu status de Criador da humanidade, Ele, eventualmente, foi também substituído. A teoria evolucionista elimina qualquer necessidade de Deus, visto como toda vida, conforme nos dizem, provém de um processo natural. E quando tiramos Deus do contexto de nossa existência, só nos resta o nosso “eu” (EGO), resultando em que a humanidade se torna padrão de todas as coisas. Contudo, isso trouxe aos evolucionistas/humanistas um dilema.
Por um lado, o homem foi “liberto” da obrigação de prestar contas ao seu Criador, mas por outro lado, foi-lhe deixada a obrigação de resolver os seus próprios problemas. A crença evolucionista/humanista assegura que dentro do homem existe um potencial primordial e necessário para obter tais soluções. O Manifesto Humanista I declara: “Finalmente, o homem se dá conta de que somente ele é responsável pela realização do mundo dos seus sonhos e que tem dentro de si mesmo o poder de conseguir isso”. Se as soluções não estão dentro do seu “eu”, então o humanismo ímpio não tem para onde apelar e, conseqüentemente, a humanidade não tem esperança. É então que recebemos a garantia dos psicoterapeutas atuais de que a cura para todos os males da humanidade pode ser realmente encontrada dentro do humanismo. Desse modo, a admoestação profética de Paulo com respeito aos “últimos dias” como sendo “tempos trabalhosos” está caracterizada principalmente por homens “amantes de si mesmos” e se adequada mais ao nosso tempo do que a qualquer outro período da história.
Substituir Deus pelo “ego” conduz ao dogma central da religião da psicologia: “a humanidade é boa por natureza”. A psicoterapia é um exercício de futilidade, a não ser que a bondade inata resida dentro do âmago do coração humano. Aqui está a explicação: se o homem possui uma natureza má, conforme a Bíblia nos ensina, então é impossível que ele possa mudar a si mesmo. Em outras palavras, se eu sou mau por natureza, continuarei sendo mau, pois nada existe dentro de mim que me capacite a mudar. Mas se eu sou bom e estou passando por problemas na vida, então, através de muitos métodos ou técnicas psicológicas, deveria eu ser capaz de admitir, utilizar ou verificar essa bondade, podendo, assim, remediar as adversidades que estou experimentando. Todos os tipos psicoterapeutas de egoísmo, desde o auto-amor, à auto-estima, à auto-imagem, à auto-atualização, à auto-realização e, principalmente, à auto-deificação, são pressupostos sobre a inata bondade da natureza humana.
A psicologia humanista - à qual todas as psicoterapias estão relacionadas - é um pseudo-sistema de crença científica do Anticristo, o qual é a personificação da malignidade humana. As bases de sua religião foram apresentadas por Satanás, quando este seduziu Eva (afastando-a da obediência a Deus em direção aos seus próprios interesses, inclusive a divinização - Gênesis 3) e culminará num homem, o Anticristo, “o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus” (2 Tessalonicenses 2:4). É nisso que se resume a autolatria.
A religião humanista/egoísta do Anticristo não aparecerá repentinamente em cena, quando ele for revelado. Como se pode observar, a religião do egoísmo tem-se desenvolvido desde o Jardim do Éden. Além do mais, ela pode ser vista na Torre de Babel e na idolatria dos gentios, em todo o Velho Testamento, prevalecendo em todas as religiões do mundo, hoje em dia.
Somente o Cristianismo bíblico se posiciona contra a exaltação do “ego”, a qual tem unido todas as demais religiões. A Bíblia declara que o “ego” é mau e sem esperança,e diz que a salvação do homem só pode vir através de Deus, quando recebida pela fé exclusivamente em Jesus Cristo. Ele satisfez toda a justiça divina pelo pagamento total dos pecados da humanidade, conforme as Escrituras. Todas as demais religiões buscam a salvação através do “eu”, principalmente através do próprio esforço, quer seja pelos rituais, sacramentos, meditação, liturgias, boas obras e assim por diante. Esforço humano versus favor divino - essa é a diferença crítica entre o método humano e o método divino de salvação.
A admoestação do apóstolo Paulo sobre os “últimos dias” é direcionada aos crentes, prevenindo-os sobre o perigo resultante da prática do auto-amor. Portanto, tem sido chocante testemunhar os conceitos humanistas do “ego” da religião apóstata do Anticristo começando a dominar, de modo nunca antes visto, no Cristianismo Evangélico. Alguns psicólogos cristãos famosos, os quais dão crédito aos psicólogos da Nova Era, Carl Rogers e Abraham Marlow, por ajudarem os evangélicos a reconhecer a sua “necessidade de auto-amor e auto-estima”. Isso, naturalmente, não pode provir da Escritura! Mesmo assim, tem havido tantos professos cristãos influentes, os quais, consciente ou inconscientemente, têm semeado, intensamente e há tanto tempo, as sementes do ensino humanista do auto-amor entre os cristãos, que as heresias já criaram raízes e os seus frutos letais têm sido consumidos através da igreja.
Norman Vincent Peale é amplamente reconhecido como um dos pioneiros na emergência da teologia e psicologia que se tornaram conhecidas como “Psicologia Cristã”. Consistente com as suas crenças, as quais ele difundiu através de sermões de rádio difusão e de sua altamente popular revista “Guidespost”, ele explicava que as pessoas são “inerentemente boas”; que “as más reações [pecado?] não são básicas”. Roberto Schüller, cuja obra “Possibility Thinking” (Pensamento da Possibilidade) deriva de “O Poder do Pensamento Positivo” de Peale (seu mentor), refletindo ambos os ensinos da Ciência da Mente, enviou 250 mil cópias do seu livro - “Self-Esteem: The New Reformation” - aos pastores dos USA. O programa de Schuller, “Hour of Power” (Hora de Poder), é o programa de TV mais popular no mundo inteiro. Apesar disso, suas visões humanistas apresentadas sob o disfarce de Cristianismo a milhões de pessoas não são reconhecidas pela sua blasfêmia: “Jesus reconhecia a sua dignidade; o seu sucesso alimentou sua auto-estima... Ele suportou a cruz para santificar a auto-estima de vocês... E a cruz vai santificar a viagem do ego” (1). Será que o Anticristo poderia acrescentar a isto algo mais antibíblico?
Infelizmente, muitos notáveis pregadores e professores evangélicos conservadores, como Chuck Swindow, Charles Stanley, Josh McDowell, Anthony Hoeckema, Norman Geisler e outros compraram, ensinaram e cristianizaram os conceitos do auto-amor, da auto-estima, da auto-dignidade e da auto-imagem.
Esse é o novo ”sacerdócio” dos psicólogos cristãos, mesmo tendo credenciais que falsamente implicam na unção da ciência, a qual tem convencido, tanto os "líderes" como as ovelhas, da legitimidade das teorias e métodos da psicologia humanista.
Entre o crescente número de profissionais altamente considerados e graduados, que ensinam à igreja o que eles têm captado do “conselho dos ímpios”, está James Dobson, o qual, sem dúvida, tem sido e continua sendo o homem mais influente entre os evangélicos, no último quartel de século. Com respeito ao auto-amor e auto-estima, ele escreve:
“Num sentido real, a saúde de toda uma sociedade depende da facilidade de seus membros em conseguir ganhar aceitação pessoal. Assim, sempre que as chaves da auto-estima parecem estar fora do alcance de uma grande porcentagem de pessoas, como na América do Século 20, então as “doenças mentais”, como a neurose, o ódio, o alcoolismo, as drogas, o abuso, a violência e a desordem social certamente acontecem.” (2) “Se eu pudesse prescrever às mulheres do mundo inteiro, eu proveria cada uma delas com uma saudável dose de auto-estima e dignidade pessoal (para ser ingerida 3 X ao dia, até desaparecerem os sintomas). Não tenho dúvida de que esta é a sua maior necessidade” (3).
Logo depois de Dobson, em matéria de influência na igreja atual, vem Rick Warren. Embora ele tenha se afastado, ultimamente, do seu antigo mentor, Robert Schüller (Warren era um freqüente preletor no Robert Schüller Institute for Successful Church Leadership, nos anos 1990), seu artigo publicado no Ladies Home Journal sob o título: “Learn To Love Yourself” é um clássico Schüller - recheado de pura Psicologia Humanista.
Warren faz uma lista de “cinco verdades”, embora nenhuma delas seja “verdade” e nenhuma seja bíblica:
1. Aceite a si mesmo
2. Ame a si mesmo
3. Seja sincero a si mesmo
4. Perdoe a si mesmo
5. Creia em si mesmo.
Mesmo assim, suas doutrinas humanistas e antibíblicas têm sido constantemente ensinadas em tantos púlpitos que a maioria dos cristãos, quando confrontada com o que a Bíblia ensina sobre o “ego” e o “egoísmo”, fica chocada, observando que foi mal conduzida, ou então se ressente ao constatar a verdade.
Mesmo não podendo abranger adequadamente, neste breve artigo, os detalhes de quão terrivelmente subversiva e destrutiva é a psicologia humanista (especialmente segundo tem prevalecido na psicologia “cristã”) aos cristãos bíblicos, aqui estão algumas preocupações que devemos considerar seriamente em oração:
1. As teorias da psicologia humanista provêm dos fundadores ateus e anticristãos da psicoterapia, cujos conceitos qualificam o que a Escritura condena como o “conselho dos ímpios” (Salmo 1:1).
2. A ênfase humanista sobre o auto-amor e a auto-estima contraria o mandamento bíblico de “negar-se a si mesmo”, sobre o qual o Senhor Jesus nos admoestou em Mateus 16:24.
3. O crescente foco sobre a auto-estima geralmente distorce a compreensão do crente sobre a verdade da natureza pecaminosa do homem e esconde a convicção de pecado num emaranhado de racionalizações humanistas.
4. A subjetiva orientação dos sentimentos da psicologia humanista mina os absolutos da verdade objetiva de Deus.
5. À medida em que vai crescendo o fermento do humanismo na mente do crente, sua interpretação das Escrituras vai se afastando gradualmente do que Deus realmente disse (Gênesis 3:1), em direção a “um caminho que parece direito ao homem” (Provérbios 14:12). A Escritura diz que os caminhos do homem, isto é, dos ensinos humanistas, “são caminhos de morte”, os quais separam o crente da verdade, roubando-o de sua fé e de sua frutificação.
Quão “trabalhosos” vão se tornando estes “últimos dias”! Considerem o seguinte e, que o Senhor seja longânimo, chorem por seus filhos. Em geral a juventude evangélica reconhece a pseudociência e os mitos da evolução, bem como de tantos outros mitos apologéticos, cientistas criacionistas, professores laureados e assim por diante. Embora a batalha continue a ser travada nessa área, poucos jovens evangélicos se libertam dos intentos do colégio, pretendendo ser ou se tornando “evolucionistas”.
Contudo, o que dizer da pseudociência e dos mitos da psicologia? Quem está ensinando nossos filhos e sobre o que? Certamente não o número rapidamente em crescimento de 50.000 membros da “American Association of Christian Counselors” (Associação Americana de Conselheiros Cristãos), cujo objetivo principal é a “integração” da psicoterapia com o Cristianismo. Quão séria é a ignorância do mal da psicologia sobre o nosso povo jovem! A prestigiada Princeton Review registra que a psicologia é a profissão número 2 na escolha da carreira de todos os que freqüentam o colégio. Ela é até mais popular nas universidades que professam ser cristãs, desde a Liberty University, na costa Leste, até o Fuller Seminary, na costa Oeste, aliás em todas, entre esse âmbito.
Quem está falando a verdade aos nossos filhos? Não o Dr. Dobson, no Focus Family, o qual ironicamente aconselha: “A psicoterapia cristã é uma profissão digna para um jovem crente, contanto que a sua fé seja bastante forte para suportar os conceitos dos humanistas, aos quais será exposto.” (4).
Chorem e orem pela nossa próxima geração de evangélicos, a qual está sendo conduzida ao sacerdócio humanista, trágica e enganosamente chamado de psicologia cristã.
Bibliografia
1 Schuller, Robert, Living Positively One Day at a Time, Revell, 1981, 201; Self-Esteem, the New Reformation, Word Books, 1982, 14-15.
2 Dobson, James, Hide or Seek, Revell Pub., 1974, 12-13.
3 Dobson, James, What Wives Wish Their Husbands Knew about Women, Tyndale House, 1975, 60.
4 Dobson, James, Dr. Dobson Answers Your Questions,Tyndale, Wheaton, IL, 1989, 497.